As cinzas do defunto

Xuxu, minha esposa, me liga.
Edinho, não sei como falar, mas...
Já sei, vem merda! (Pensei.)
A Maria me ligou e pediu... pediu com muito jeito... e...
É... na realidade, vem uma cagada! (Pensei novamente). Fala logo, Xuxu!
Pediu para, se fosse possível, jogar as cinzas do sobrinho dela no mar utilizando o seu barco. Era o desejo dele antes de morrer.
(Nesta época eu tinha um barco grande de pesca).
Quando?
Sábado.
Poxa, sábado em tenho TQD! (Nunca foi tão bom dar aula no sábado!)
Pede para o seu amigo, o Zé, para fazer isso.
Liguei para o Zé. Zé topou me ajudar.
Combinamos que na hora do almoço eu iria ao cais ajudá-lo a guardar o barco.
Chegou a hora. Fui para o cais. Esperei... esperei... esperei...
Lá vem o barco. Com um monte de gente dentro.
Zé com cara feia.
Saltaram no cais e eu entrei no barco para guardá-lo.
Tudo bem, Zé?
Nada! Tá não! Merda!
O que aconteceu?
Entrou a família toda. Pô! Até o cachorro! Navegamos cerca de 1h e meia de barco com duas mulheres vomitando o barco todo. Quando chegamos ao local, falei:  Quando eu parar o barco é hora de jogar as cinzas, ok?. Tudo acertado. Fiz um sinal avisando que iria parar o barco. Acenaram afirmativo. Coloquei o barco com vento de popa (vento de trás para frente) e parei o motor.
Não podia demorar, o vento roda o barco. Gritei, “tem que ser agora!”
Os familiares deram as mãos e começaram a rezar...
Fudeu! O barco ficou girando livre no vento.
Soltaram as cinzas, justamente quando o vento vinha na minha direção...
Não deu outra...
Bosta! Cheirei o defunto todo!

Edson Perrone