Na sombra do poste

Faz uns 35 anos.
Eu, Babau, Zé Meleca e Diarréia fomos a uma festa na Prainha, Vila Velha.
Perdemos o último ônibus. Paravam de circular por volta da meia-noite.
Babau, Zé Meleca e Diarréia resolveram ficar na festa e eu queria ir embora.
Fui.
Resolvi ir andando. Mais ou menos 5 km até Itapoã.
Nesta época existia uma rixa entre os moradores da Toca e de Itapoã. Sempre tinha briga.
Eu e meus amigos nunca participávamos destas brigas. Sempre fomos da paz.
Fui andando. Tinha que passar pela Toca. Só um pedacinho e de madrugada.
Chegando à Toca fiquei mais atento.
Longe, no sentido contrário, vinha uma pessoa.
Fiquei de olho.
A pessoa estava no mesmo lado da rua que eu.
Mudei o lado da rua.
A pessoa também.
Aproximávamos.
Mudei o lado da rua.
A pessoa também.
Já estávamos ficando pertos.
Mudei o lado da rua.
A pessoa também. Fudeu!
Deixei chegar bem perto e rapidamente mudei o lado da rua e apertei o passo.
Pela sombra do poste no chão, vi que a pessoa passou a andar atrás de mim.
Merda! Tô fudido!
Comecei a correr...
A pessoa parou.
Parei e olhei para trás.
A pessoa põe a mão na cintura e fala:
Ei gostosão! Apressadinho assim num dá para fazer um programinha!
Aí que eu fiquei apavorado e disparei.

Edson Perrone