I love Aracaju

Janeiro de 1989.
Eu e meu amigo Zé fomos convidados para o Congresso de Zoologia em Maceió, para apresentar 3 trabalhos sobre peixes. Estávamos animados e ansiosos.
Zé era uma pessoa muito divertida. Pesava cerca de 160 quilos e era todo desajeitado. Sabe aquele gordo que a calça sempre entra no meio da bunda?
No dia do embarque nosso trajeto foi um pouco diferente. Saímos de Vitória e fomos para Curitiba. Depois de Curitiba para Maceió (acho que era para o avião pegar embalo).
Despachamos nossas bagagens com os nossos trabalhos e só ficamos com a roupa do corpo e documentos.
Eu morro de medo de andar de avião. Enfrento porque não tem outro jeito. Portanto, fizemos o trajeto.
Só que, no caminho, começa a chover.
Uma voz: Senhores passageiros, passaremos por uma instabilidade temporária. Apertem o cinto.
O avião ficou instável. Parecia que entrávamos em várias quedas livres.
Zé estava tranquilo. Só que a cada queda livre, gritava: Ai meu Deus!!!!!!!, bem alto.
Eu estava pálido. Só fazia: Ui!... Ufa!... E mantinha a pose.
Zé se soltou. “Ai minha Virgem Santa! Ai! Meu Deus do céu!”.
Falei:   Menos Zé!... Calma!
Zé grita: Menos o caraiiiiiiiiiiii!!!!!!!! Calma o cacet.........!!!!!!!!
Passou.
A voz novamente: Senhores passageiros, em Maceió, no momento, não existe possibilidade de aterrissagem, portanto, faremos uma parada em Aracaju.
Adorei. Tava morrendo de medo.
Zé suava.
Chegamos a Aracaju. Ficamos cerca de 4 horas dentro do avião aguardando.
A voz misteriosa fala: Senhores passageiros, infelizmente, não existe qualquer chance de continuarmos a viajem para Maceió. O desembarque será aqui em Aracaju. Nossos assistentes darão novas informações.
Bom, tinham vários táxis esperando para levar os passageiros para o hotel.
Lembramos que tínhamos despachado todas as nossas roupas para Maceió.
Fudeu!
Chegamos ao hotel. Lindo! Na beira-mar. Pena que já era madrugada.
Fomos para nosso quarto. Eu e o Zé.
Fui tomar banho e pedi ao Zé para ir à loja de conveniências do hotel para comprar camisas e cuecas.
Zé foi às compras.
Saí do banho e fiquei esperando o Zé.
Chega o Zé. Com uma sacola da loja. Ufa! Conseguiu.
Peguei minha camisa suja embolei e coloquei em uma sacola. Joguei a cueca fora.
Zé tava tomando banho e levou as roupas compradas para dentro do banheiro.
Zé sai do banho.
“Edinho... A minha cueca deu direitinho e a sua eu acho que também vai dar.”
“Que bom, Zé!”
Tive sorte. Comprei as duas únicas camisas que tinha na loja. A maior para mim e a menor para você.
Faz sentido, Zé!
Fomos dormir.
Acordamos.
Levantei e fui me arrumar para continuar a viagem.
Aí o bicho pegou!
A minha camisa era “baby look” escrito “I Love Aracaju”, com um coração vermelho no centro.
Perguntei ao Zé: Poxa! Você não olhou as camisas?. “Não!”, respondeu. Eram as duas últimas. Era comprar ou ficar sem!
Agora, imaginem a camisa do Zé (que era igual à minha), com aquele biótipo. Ficava no meio da barriga.
E pior... Ele só falou que ficou um pouquinho apertada.
Era a visão do inferno!
Ele ficava puxando a camisa para tentar tapar a barriga. Lembre que a bunda já ficava de fora da calça.
Nos olhamos no espelho.
Éramos um casal homossexual bem esquisito.
Um casal de gays ridículo. Que vergonha!
Não tinha outro jeito.
Ou era daquele jeito ou perderíamos o voo. Fomos!
Todo mundo ria da gente. Eu entendia o motivo.
Zé fala: Esquece, parceiro, ninguém conhece a gente, relaxa!
“Parceiro? Relaxa? Tô me sentido um viado velho!”
Estávamos atrasados para as apresentações no Congresso.
No desembarque encontramos um representante do Congresso com uma placa com os nossos nomes. Ufa! Chegamos.
O homem ficou parado olhando para os “doutores” que ele tinha que buscar no aeroporto.
Explicamos o que tinha acontecido. O homem disse: Eu entendo!
Acho que não convencemos o homem. Um gatinho! Uiiii!.
Zé já estava acostumado com a roupa e eu quase rebolei.
Antes de ir para o Congresso, comprei roupa nova.
Não estava escrito “I Love Maceió”.

Edson Perrone
ecperrone@gmail.com